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Gema 307

O 9° PRÊMIO SAINT-GOBAIN AsBEA DE ARQUITETURA

quarta, 28 de setembro de 2022

 

 

Inscrito e finalista no 9º Prêmio Saint-Gobain AsBEA de Arquitetura (2022), Categoria Profissional, Modalidade Projeto Institucional, o Instituto Efraim comprova, que nos dias de hoje, criamos os prédios do amanhã. Essa premiação é focada nos tópicos de Conforto, Inovação e Sustentabilidade e possui como pilares, além desses, a preocupação com um design de qualidade estética, além da relevância social do projeto para seu entorno. Um interessante objetivo dessa premiação é a busca pela mobilização tanto de profissionais, quanto de estudantes, que acreditam que a Construção Civil carrega um importante papel para o bem-estar dos usuários. 

 

Projeto EFRAIM- relevância social e sustentabilidade ambiental 

 

O Instituto Efraim é um lugar de acolhimento, criado há mais de oito anos, no município de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e vem contribuindo em silêncio com a desconstrução dos cenários de insegurança e desassistência da cidade. Neste local, hoje ainda com instalações precárias, homens, dependentes químicos, são recebidos e integrados em atividades e cuidados para elevar sua fé, lutar e vencer seus vícios.

Com o objetivo de potencializar as atividades do Instituto e dar conforto, segurança e dignidade aos acolhidos, o projeto foi desenvolvido a partir dos conceitos de sustentabilidade, ambiental e econômica. As soluções apresentadas têm por objetivo garantir eficiência no uso dos recursos naturais, bem como ajudar a reduzir os custos de manutenção da edificação. 

Localizado em uma região de vulnerabilidade social, o projeto marca a paisagem sem agredir o entorno, devido ao uso de elementos naturais, como o bambu, que é de fácil leitura e mimetização no espaço.

LOCALIZAÇÃO

 

O município onde está localizado o Instituto tem uma das maiores densidades demográficas nacionais, com cerca de 13.000 hab/km², sendo fortemente impactado pela conurbação urbana com as cidades vizinhas, configurando-se morfologicamente como um único tecido urbano, contínuo e adensado. A urbanização da região não foi acompanhada por políticas e ações públicas, como a geração de emprego e renda.

 

CONDICIONANTES

 

Consideramos como um dos marcos legais para o desenvolvimento do programa o Plano Nacional de Políticas sobre Drogas (2021-2025), que tem como um dos objetivos a articulação de programas, ações e projetos de incentivo ao emprego, renda e capacitação para o trabalho, visando a inserção profissional da pessoa que cumpriu as fases de tratamento. 

CONCEITO

O conceito adotado no projeto foi o do casulo ¹, relacionando a mudança ocorrida com os animais ao evoluírem e a mudança de vida dos toxicômanos ao se afastarem das drogas. Quando os bichos sofrem essa transformação, no caso de alguns, como a joaninha e a borboleta, eles criam um casulo que serve de abrigo e proteção, para que passem por uma espécie de reciclagem, eliminando parte do corpo e criando novos órgãos.

Nesta obra, essa metamorfose é uma metáfora ao tratamento de um dependente químico, em que ele passa por uma evolução mental e espiritual, onde o casulo se torna a edificação, protegendo o paciente de qualquer interferência externa, proporcionando sensações que favoreçam o resultado desejado, através de soluções arquitetônicas. O casulo possibilita o surgimento de um ser mais evoluído. 

¹ Palavra de origem latina, que significa “vestimenta sacerdotal”; CASA, “casa pequena”, porque envolve todo o corpo como uma casca.

 

PARTIDO

Pensando no melhor aproveitamento do terreno, com pequeno declive em relação à rua, o projeto se desenvolve em três pavimentos, sendo o inferior semi-enterrado. 

Condicionado também pelas dimensões do terreno, reduzidas para o programa pretendido, a edificação ocupa toda a sua extensão, acompanhando o desenvolvimento da rampa que acessa todos os pavimentos de forma contínua.

As funções foram distribuídas, de forma a proporcionar melhor aproveitamento dos espaços e conforto e privacidade aos usuários, sendo: setor de serviços no pavimento semi-enterrado; acolhimento e área aberta ao público no segundo pavimento; área íntima (quartos) no terceiro pavimento. 

Complementando o programa, a cobertura terá, além da área técnica um jardim/horta, que servirá como apoio terapêutico para os acolhidos.

O projeto também foi pensado de forma a proporcionar conforto térmico e acústico. A envoltória em bambu garante iluminação natural ao mesmo tempo que protege as fachadas da radiação solar direta. Já o uso de painéis de lã de pet atenuam a propagação de ruídos.

No terraço, o jardim com horta ajuda a diminuir a carga térmica da edificação e os ruídos externos. Além disso, a horticultura terapêutica também auxiliará no tratamento dos residentes.

 

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE 

 

Todas as etapas do projeto foram desenvolvidas com tecnologia BIM, compatibilizando os projetos de arquitetura, de estruturas e complementares, gerando orçamentos mais precisos, reduzindo o risco de perdas materiais durante a construção. Vencida a etapa projetual, o BIM auxiliará no acompanhamento e gestão da obra, em todo seu ciclo de vida - antes, durante e depois da construção.

Além disso, o projeto pretende contribuir para desmistificar o uso das tecnologias de eficiência energética e do aquecimento da água, atuando como um “Hub”, local de compartilhamento e troca, na disseminação dessas tecnologias na região e mostrando que a sustentabilidade pode ser acessível e com baixo custo. 

A captação de energia solar será feita através de dois sistemas: um com kit automatizado que utiliza cabos de fibra óptica para a condução da energia e outro com placas fotovoltaicas sobre a envoltória da edificação. Para a iluminação, serão usadas luminárias em LED, diminuindo o consumo de energia e com grande durabilidade. E o aquecimento da água também será feito com energia solar, através de serpentina em fluxo contínuo cíclico, garantindo água aquecida e conforto para os usuários, a baixo custo.

O uso racional dos recursos naturais é uma das premissas do projeto. Na escolha dos materiais, a opção foi pelos mais sustentáveis, como a argamassa polimérica (biomassa) e a lã de PET, utilizada como proteção acústica, que é reciclada e 100% reciclável, e não leva água ou resina em sua produção. As tecnologias usadas para redução do consumo de água e energia elétrica também garantem a sustentabilidade no uso da edificação, reduzindo os custos fixos de manutenção do espaço. 

O projeto prevê a redução significativa na geração de Resíduos da Construção Civil – RCC, já que o Brasil recicla apenas 20% do resíduo de construção e gera em torno de 31 milhões de toneladas anualmente. O tempo de execução da obra pode apresentar uma redução de até oito vezes, quando comparado a tradicional, fazendo a utilização dos processos a seco e modulares. A estrutura modular permite a redução da mão de obra na execução do serviço, acarretando menos emissões de CO2 na atmosfera.

E ao falar da mão de obra, o desejo estabelecido entre os envolvidos do projeto é a participação dos atuais moradores para a construção da nova sede do instituto, auxiliando-os na elaboração das habilidades necessárias para o manejo e construção especializada no modelo EPS, os fornecendo tal formação para auxiliar em seu futuro longe dos entorpecentes.

 

CONFORTO TÉRMICO E ACÚSTICO

  • Alvenaria externa: blocos de placas cimentícias preenchidas com EPS: apresentam redução térmica de até 8ºC e redução sonora de 35dB. 

  • Alvenaria interna: placas de drywall, com isolamento acústico de lã de PET. 

  • Implantação do projeto no terreno: tirou partido da orientação solar para o uso mais eficiente da iluminação natural e do aproveitamento dos ventos dominantes (sudeste). 

  • Envoltória: ventilada em bambu trançado com trechos abertos e trechos com fechamento em tela para sombrear as fachadas mais expostas à radiação solar direta e aos raios UV nocivos. 

  • Terraço Jardim com Horta: Estratégia adotada para a redução da carga térmica da edificação, atenuar ruídos do trânsito local e reduzir o som direto das chuvas sobre a cobertura. 

  • Forro: painéis de lã de pet revestidos com tecido e fibra mineral em placas, atenuando a propagação dos ruídos.

  • Instalações hidrossanitárias: Revestidas com manta de lã de PET.

 

CONFORTO VISUAL, SAÚDE, MODULAR E ACESSIBILIDADE 

  • Captação de Energia: Utilizados dois sistemas de captação de energia solar, kit automatizado que utiliza cabos de fibra óptica para a condução da energia e placas fotovoltaicas sobre a envoltória da edificação. 

  • Iluminação: Pontos de luz natural e luminárias em LED, diminuindo o consumo de energia e com grande durabilidade. 

  • Aquecimento da água: sistema solar composto por serpentina em fluxo contínuo cíclico, garantindo água aquecida e conforto para os usuários, a baixo custo. 

  • Layout: aberto e com grandes vãos permitindo a entrada de luz natural e diminuindo a necessidade de uso de luz artificial durante o dia. • Envoltória: em bambu tratado e tela de sombrear, amenizando os efeitos dos poluentes externos, da reflexão da luz solar na superfície da edificação e da radiação direta. 

  • Horticultura Terapêutica: auxilia na melhora do bem-estar dos residentes, promovendo envolvimento, ativo ou passivo. Incentivando a alimentação saudável. 

  • Estrutura: em perfil metálico modulado, permitindo melhor organização, rapidez, limpeza da obra e reduzindo resíduos. 

  • Laje: concreto celular, mais leve que o tradicional,aliviando as cargas distribuídas e colaborando para o conforto acústico. 

  • Alvenaria interna: modulação em drywall, garantindo flexibilidade, rapidez na instalação e redução de custos nas adaptações ao longo da vida útil. 

  • Forros: modulares permitindo acesso às instalações prediais e facilitando a manutenção. 

  • Acessibilidade: O projeto prevê acessibilidade em todos os pavimentos por meio de rampas.

  • Biodigestor: Utilizado para tratamento do esgoto, impedindo que o conteúdo contamine o meio ambiente. 

 

O PROJETO 

 

 

A relevância social do projeto está no fato da edificação abrigar uma instituição voltada ao tratamento e reinserção na sociedade de toxicômanos. Urbanisticamente, o projeto intenciona ser um marco na paisagem, mas sem agredi-la,  e referência para a comunidade local, mas também um espaço modelo de trocas no que tange às tecnologias sustentáveis e valorizando o trabalho desenvolvido pelo Instituto.

As formas simples e retas da construção imprimem elegância ao projeto sem, no entanto, afastar os moradores do entorno. A estrutura em bambu, que remete à natureza, conversa com os tons terrosos das construções vizinhas, possibilitando a apropriação do prédio como parte da comunidade. 

Casulo é o envoltório construído pela lagarta antes de sua transfiguração em borboleta. É o invólucro que o bicho da seda fábrica e cujas fibras dão origem a este nobre e ancestral tecido. É, no sentido figurado, aquilo que serve de refúgio ou esconderijo. A borboleta é um emblemático símbolo da metamorfose e da transformação, representando as mudanças ocorridas ao longo da vida, bem como os ciclos pessoais desde o nascimento até a morte.

O bambu é símbolo de multiplicação e generosidade. No Japão e na China acredita-se que seu tronco oco serve de morada aos deuses. O bambu, apesar da sua simplicidade, é uma das árvores mais resistentes que existem: inclina-se diante do vento mas não quebra. No projeto o bambu envolve e acolhe toda a edificação, integrando-se com tecnologias modernas, remetendo a uma malha conceitual, que abriga e protege.

Nossos objetivos ao desenvolver esse projeto é criar um ambiente que proporcionasse o sentimento de bem-estar para os futuros usuários, trabalhando em cima das normas e parâmetros de conforto, além do equilíbrio com as ações externas em busca de maximizar a eficiência energética e diminuir o uso, em casos desnecessários, de equipamentos para controle climático interno, como ar-condicionados e outros.